quinta-feira, 20 de junho de 2013

artes - inicio da arte


Pré-História

          Um dos períodos mais fascinantes da história humana é a Pré-história. Esse período não foi registrado por documentos escritos, pois é exatamente a época anterior à escrita.
As primeiras expressões da arte eram muito simples, consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas. Muito tempo depois é que os artistas pré-históricos começaram a desenhar e pintar animais.
Pintavam os seres, um animal por exemplo, do modo como o via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual sua vista a captava.
          São inevitáveis as perguntas sobre os motivos que levaram o homem a fazer essas pinturas. A explicação mais aceita é que fazia parte de um processo de magia e que de alguma maneira eles procuravam interferir na captura do animal desenhado, o pintor paleolítico supunha tPintura rupestre encontrada em Tassili, região do Saara.er poder sobre o animal desde que possuísse a sua imagem. A produção do homem pré-histórico, pelo menos a que foi encontrada e conservada, é representada por objetos em grande parte portadores de uma utilidade, seja ela doméstica ou religiosa: ferramentas, armas ou figuras com uma simbologia específica. No entanto, seu estudo e a comparação entre elas permitiram constatar que já existiam então noções de técnica, habilidade e desenho, embora não se possa separar o conceito de arte, em praticamente nenhum caso, dos conceitos de funcionalidade e religião.
          Os artistas do Paleolítico Superior realizaram também esculturas. Mas, tanto na pintura quanto na escultura, nota-se a ausência de figuras masculinas.
          O homem do Neolítico desenvolveu a técnica de tecer panos, de fabricar cerâmica e construiu as primeiras moradias. todas essas conquistas tiveram um forte reflexo na arte. A Dolmens. detalhe do Santuário de Stonehenge, Inglaterraconseqüência imediata foi o abandono do estilo naturalista e o surgimento de um estilo geometrizante, vamos encontrar figuras que mais sugerem do que reproduzem os seres. Começaram as representações da vida coletiva, a preocupação com o movimento fez com que as figuras ficassem cada vez mais leves e ágeis. Desses desenhos surge a primeira forma de escrita, que consiste em representar seres e idéias pelo desenho. São também desse período as construções denominadas dolmens, duas ou mais pedras grandes fincadas verticalmente no chão, como se fossem paredes, e em uma grande pedra colocada horizontalmente sobre elas, parecendo um teto. A explicação sobre essas construções ainda não foram suficientemente esclarecidas pela História e pela Antropologia

Mesopotâmia
        A arquitetura da Mesopotâmia empregou nos seus estágios iniciais tijolos de barro cozido, maleáveis, mas pouco resistentes, o que explica o alto grau de desgaste das construções encontradas. As obras mais representativas da construção na Mesopotâmia - os zigurates ou templos em forma de torre - são da época dos primeiros povos sumérios e sua forma foi mantida sem alteração pelos assírios. Na realidade, tratava-se de edificações superpostas que formavam um tipo de pirâmide de faces escalonadas, dividida em várias câmaras. O zigurate da cidade de Ur é um dos que se conservaram em melhor estado, graças a Nabucodonosor II, que ordenou sua reconstrução depois que os acádios o destruíram. O templo consistia em sete pavimentos e o santuário ficava no terraço. Acredita-se que na reconstrução tentou-se copiar a famosa Torre de Babel, hoje destruída. O acesso ao último pavimento era feito por escadarias intermináveis e estreitas que rodeavam os muros. O templo era dedicado ao deus Nannar e à esposa do rei Nabucodonosor, Ningal.
A arquitetura monumental aquemênida retomou as formas babilônicas e assírias com a monumentalidade egípcia e o dinamismo grego. Os primeiros palácios de Pasárgada, de Ciro, o Grande (559 a.C. - 530 a.C.), possuíam salas de fileira dupla de colunas acaneladas com capitéis em forma de cabeça de touro, de influência jônica.
Para centralizar o poder, Dario (522 a.C. - 486 a.C.) transformou Susa e Persépolis respectivamente em capitais administrativa e religiosa. Seus palácios, obras do renascimento oriental, foram as últimas testemunhas da arquitetura oriental antiga.
No que se refere às tumbas, os monarcas aquemênidas, que não seguiram a tradição zoroástrica de expor seus cadáveres às aves de rapina, mandavam escavar suntuosos monumentos funerários nas rochas de montanhas sagradas. Uma das tumbas mais conhecidas é a de Dario I, na encosta do monte Hussein-Kuh. Sua fachada imita o portal de um palácio e é coroada com o disco do deus Ahura Mazda. Este foi o modelo seguido posteriormente nas necrópoles. As primeiras esculturas descobertas na Mesopotâmia datam de 5000 a.C. e são em sua maioria figuras que lembram muito as Vênus pré-históricas encontradas no restante da Europa. No milênio seguinte reflete-se uma estilização das formas tendentes ao naturalismo e são encontradas peças de mármore, tais como bustos, estelascomemorativas e relevos. A mais importante é a estelas encontrada em Langash, não apenas por ser considerada a mais antiga do mundo, como também porque é nela que aparece pela primeira vez a representação de uma batalha. As estátuas mais características são figuras de homem ou mulher em pé, chamadas de oradores, trajados com túnicas amplas, com as mãos postas na altura do peito, sendo o rosto a parte mais chamativa do conjunto, devido ao superdimensionamento dos olhos, normalmente elaborados com incrustações de pedra. Quanto aos relevos, sua importância é indubitavelmente fundamental para a compreensão da história, da iconografia religiosa e do cerimonial dos povos mesopotâmicos.
Existiam vários tipos, entre eles os esculpidos em pedra e os realizados sobre ladrilhos esmaltados, como é o caso dos poucos restos encontrados da famosa "Porta dos Deuses" (o que, na verdade, significa Babilônia) e os de argila. Dependendo do povoado e da cidade, os temas e os estilos variavam: durante as dinastias acádia e persa, a temática era a narração da vitória dos reis, enquanto na época dos babilônios a preferência era pelas representações das divindades ou das tarefas cotidianas do povo.

sociologia - Sociologia como ciência da sociedade

Sociologia como ciência emancipadora social 

As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no Ocidente a partir do século XVIII, como as Revoluções Industrial e Francesa, evidenciaram mudanças significativas na vida em sociedade com relação a suas formas passadas, baseadas principalmente nas tradições.
Assim surge a Sociologia em pleno século XVIII, com as primeiras pesquisas sociais e nas ideias gerais do Iluminismo, como forma de entender e explicar aquelas mudanças sociais. Por isso, a Sociologia é uma ciência datada historicamente e que seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo moderno.
Essa disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social, desvinculando-se das preocupações transcendentais e diferenciando-se progressivamente das demais ciências enquanto forma racional e sistemática de compreensão da sociedade.
Ao contrário das explicações filosóficas das relações sociais, as explicações da Sociologia não partem simplesmente da especulação de gabinete, baseada, quando muito, na observação casual de alguns fatos. Para as explicações, são empregados os métodos estatísticos, a observação empírica e uma neutralidade metodológica.
Como ciência, a Sociologia deve obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades dos fenômenos sociais quando comparados com os fenômenos de natureza e, consequentemente, da abordagem científica da sociedade.
A Sociologia, considerando o tipo de conhecimento que produz, pode servir a diferentes tipos de interesses. A produção sociológica pode estar voltada para engendrar uma forma de conhecimento comprometida com emancipação humana. Ela pode ser um tipo de conhecimento orientado no sentido da promoção do melhor entendimento dos homens acerca de si mesmos, para alcançar maiores patamares de liberdade política e de bem-estar social.
Por outro lado, a Sociologia pode ser orientada como uma “ciência da ordem”, isto é, seus resultados podem ser utilizados com vistas à melhoria dos mecanismos de dominação por parte do Estado ou de grupos minoritários, sejam empresas privadas ou organismos de Inteligência, à revelia dos interesses e valores da comunidade democrática com vistas a manter o status quo.

química- como congela a água em menos de 1 segundo !!!


segunda-feira, 17 de junho de 2013

BILOGIA / CIÊNCIAS !!! CADEIA ALIMENTAR !!!

A energia do Sol, captada pelos seres clorofilados – denominados produtores – é a fonte de alimentação desses.

Produtores são fonte de alimento para os consumidores primários – organismos herbívoros e que, por sua vez, são alimentos (e fonte de energia) para outros consumidores. Esses organismos serão consumidos pelos seres detritívoros e/ou decompositores – como urubus e bactérias, respectivamente. E, desta forma, um organismo é fonte de matéria e energia a outro organismo, ao servir de alimento a ele.

Cadeia Alimentar é o percurso de matéria e energia em vários níveis tróficos, ou seja: a cada grupo de organismos com necessidades alimentares semelhantes quanto à fonte principal de alimento:

Produtores: são todos os seres autotróficos clorofilados, presentes em todas as cadeias alimentares. Eles que transformam a energia luminosa em energia química, sendo assim, o único processo de entrada de energia em um ecossistema.

Consumidores: são os que se alimentam dos produtores (consumidores primários) ou de outros consumidores (consumidores secundários, terciários, etc.). Nesse nível trófico estão os detritívoros – animais que se alimentam de restos orgânicos e têm como representantes os urubus, abutres, hienas, moscas, etc.

Decompositores: reciclam a matéria orgânica, decompondo-a e degradando-a em matéria inorgânica. Esta é reaproveitada pelos produtores, dando continuidade ao ciclo. São representados por micro-organismos, tais como fungos e bactérias.

Exemplo de cadeia alimentar:


Teias alimentares são várias cadeias alimentares relacionadas entre si. Elas representam de forma mais fiel o que ocorre, de fato, na natureza.

FISÍCA ! Referencial, Movimento e Repouso



Imagine que você está sentado em um ponto de ônibus e logo percebe que o transporte se aproxima. Como o motorista está dentro do ônibus, ele e todos os passageiros se aproximam de você. Logo, percebemos então que o conjunto: ônibus, passageiros e motorista, se movimenta.

As pessoas que estão dentro do ônibus não percebem o motorista nem se afastar e nem se aproximar, para eles (passageiros) o motorista está quieto, ou seja, está em repouso.

Vemos então que para um mesmo evento simultâneo as condições de movimento e repouso são relativas e dependem de quem as observa.

Faça o seguinte: deite sobre sua cama e fique quietinho. Agora faça a seguinte pergunta a si mesmo: Estou em movimento ou em repouso? Se você responder a pergunta com relação à cama na qual está deitado, com certeza você estará em repouso. Agora, imagine que há um observador no Sol e de lá ele vê você deitadinho em sua cama; como a Terra gira em torno do Sol e você está sobre a Terra, logo ele perceberá você em movimento.

Vemos então que para um determinado corpo estar em movimento, a sua posição deve ser mudada no decurso do tempo com relação a um observador; e para um determinado corpo estar em repouso, a sua posição não deve mudar no decurso do tempo com relação a um observador.

Quando escolhemos um observador para a determinação e identificação do estado de repouso ou movimento de um corpo, estamos estabelecendo o referencial ou o sistema de referências em que um evento será analisado.

Conclui-se que movimento e repouso são relativos, ou seja, dependem do sistema de referência adotado.

MATÉRIA ESPECIAL ! ASTRONOMIA E ASTRONOMIA !

Astrologia e Astronomia:

 
 
 
 
A Astrologia e a Astronomia são hoje áreas independentes e sem nenhuma relação entre si quer quanto aos objectivos, quer quanto às metodologias de trabalho utilizadas. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a Astrologia é a "arte de adivinhar o futuro pelos astros" enquanto que a Astronomia é a "ciência que trata dos astrosou seja sua posição, dimensões, constituição, formação e evolução. No entanto esta distinção não foi sempre tão clara.
Durante muito tempo (seguramente mais de 45 séculos!) a Astrologia e Astronomia confundiam-se. Os sacerdotes da Mesopotâmia antiga eram também astrónomos. As suas observações dos movimentos das estrelas, Sol, Lua e planetas permitiram inferir a relação entre os astros e o ano e as estações. Porque não estender esta relação ao dia a dia do próprio Homem?Os astrónomos, que muitas vezes faziam parte das cortes de reis e imperadores, além das suas observações dos movimentos dos planetas, tinham que fazer horóscopos, com previsões de bons ou maus presságios para o futuro ou mesmo aconselhamento para a melhor data para uma celebração, um enlace, uma batalha. O próprio Johannes Kepler (1571-1630), expoente máximo da Astronomia Universal, teria tido necessidade de, em determinados períodos da sua vida, recorrer à construção de horóscopos para poder angariar o sustento para si e para a sua família.
Não é claro o momento da separação entre a Astrologia e a Astronomia. Segundo Carlos Daremberg (1817 – 1872), historiador de medicina francês,"a Astrologia começou a declinar no século XII, para morrer afogada em ridículo no século XVIII". No entanto é incontestável, e natural, que a convivência secular entre estas duas áreas tenha trazido até aos nossos dias reminiscências desse passado comum. Uma das mais claras é a que concerne o léxico usado pela Astrologia. Nos tempos que correm somos inundados, através da imprensa ou da comunicação social, por referências à Astrologia, dadas de forma tão hermética e obscura que por vezes nos assustam, fascinam, ou mesmo ludibriam.
Este artigo pretende definir, à luz da Astronomia, o significado, tantas vezes elementar, que têm muitos dos termos e conceitos utilizados nessa linguagem. Trata-se assim de um artigo com carácter eminentemente pedagógico. Portanto não é nossa intenção contrapor de alguma forma a Astronomia à Astrologia, utilizando a primeira para refutar (ou validar) os resultados da segunda.

Os vários modelos para o nosso sistema solar

A natureza dá-nos três ciclos primários: os dias como rotação da Terra em torno de si própria, os meses como revoluções da Lua à volta da Terra, os anos como revoluções da Terra em volta do Sol. A existência de dois solstícios e dois equinócios leva ainda à divisão do ano em quatro períodos iguais, chamados estações do ano.
O movimento da Lua e o porquê das suas fases foram muito cedo compreendidos, o mesmo não se passando com o movimento do Sol. Ao longo da história vários foram os modelos apresentados por astrólogos, filósofos e teólogos para representar o nosso sistema solar, cf. figuras 1 e 2.
Figura 1.Athanasius Kircher, Iter extaticum, Roma, 1671IO sistema de Ptolomeu (c.100-160 d.C.) com a Terra no centro, cercada pelas sete esferas etéreas da Lua, Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. No plano superior fica a superfície imóvel das estrelas e dos signos do Zodíaco. 
II
Platão (427-374 a.C.) colocava o Sol imediatamente a seguir à Lua.
IIINo sistema pseudo-egípcio de Vitruvius, Mercúrio e Vénus descreviam um círculo à volta do Sol e este, por sua vez, tal como os restantes planetas, girava em torno da Terra.
IV+V
O sistema proposto em 1580 por Tycho Brahe (1546-1601) parte de dois centros: à volta da Terra, vista como um centro fixo, gira o Sol que por seu turno é o centro de outros planetas.
VI
Em 1543, 1800 anos após Aristarco, Copérnico (1473-1543) voltou a colocar o Sol no centro do universo.
*
Figura 2. Michelangelo Cactani, La Materia della Divina Comedia di Dante Aliguieri,1855.O modelo geocêntrico tornou-se muito popular. Foi adoptado pela religião cristã e publicitado por teólogos, filósofos e mesmo escritores e muitas foram as fantasias criadas a partir dele. Na Divina Comédia de Dante (1307-1321), o Inferno encontra-se no interior da Terra; a alma, no seu caminho para Deus, deve subir através do Purgatório, das nove esferas dos planetas, das estrelas e da esfera de cristal, até chegar ao Paraíso.

A construção de uma carta astrológica

A ideia de modelo geocêntrico levou à criação da carta astral ou carta astrológica. Com a Terra no centro do universo, acreditava-se que a posição do Sol, da Lua e dos planetas tinha influência directa na vida dos humanos. Uma carta astrológica consiste simplesmente na apresentação das posições relativas (para um observador sobre a Terra) do Sol, da Lua e dos planetas. A título de exemplo, vamos construir uma carta astral e decifrar, com a linguagem da astronomia, os termos de astrologia que a descrevem.
A confiar nos registos que chegaram até nós, Júlio Verne nasceu em Nantes, em França, no dia 8 de Fevereiro de 1828, pelas 12 horas locais. A hora sideral do seu nascimento é 21 horas e 10 minutos. Debrucemo-nos por um momento sobre este conceito de tempo sideral.
A definição de Tempo Sideral ou Tempo das Estrelas está intimamente ligada ao conceito de Dia Sideral. Este define-se como o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do ponto vernal (ou de uma qualquer estrela) no meridiano do lugar. Por sua vez o Dia Solar define-se como o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol no meridiano do lugar. Estes dois intervalos de tempo não são exactamente iguais, porque enquanto que oDia Sideral tem como referência um ponto na esfera celeste, que em boa aproximação se pode considerar fixo, o Dia Solar tem como referência o Sol que, graças ao movimento de translação da Terra, tem um movimento aparente de aproximadamente 1º/dia (ver figura 3). Daqui resulta que a duração do Dia Sideral seja menor que a do correspondente Dia Solar. De facto, às 24 horas do Dia Solar correspondem 23h56m4 s.091 de Dia Sideral.
Figura 3A Terra, no seu movimento em torno do Sol, desloca-se 1 grau por dia, o que provoca uma ligeira diferença entre o Dia Solar e o Dia Sideral.
Calculemos agora a hora sideral do nascimento de Júlio Verne.
NOME: JULES VERNE
LOCAL: NANTES
DATA: 8 DE FEVEREIRO DE 1828
HORA: 12h 00m
Cálculo da hora sideral do nascimento de Jules Verne
12h 00m(hora oficial de França no instante do nascimento)
+ 00h 00m(diferença horária em relação a Greenwich durante o ano de 1828)
12h 00m 
+ 00h 06m(longitude de Nantes: 0º6´ Leste)
12h 06m 
+ 09h 04m(hora sideral às 0 horas de Greenwich do dia 02-02-1828)
21h 10m(hora sideral no momento do nascimento de Júlio Verne)
Com a ajuda de uma tabela, podem agora ser encontradas as posições dos astros naquele preciso momento.
Figura 4.Carta Astrológica de Júlio Verne, nascido em Nantes, França, no dia 8 de Fevereiro de 1828, pelas 12 horas.
Da carta astrológica de Júlio Verne tiramos os seguintes elementos:
  1. Signo solar Aquário, signo lunar Escorpião.
  2. Signo ascendente Gémeos.
  3. Meio do Céu em Aquário.
  4. Cabeça do dragão em Balança.
  5. Plutão em Carneiro.
  6. Saturno retrógrado em Caranguejo.
  7. Neptuno em oposição a Saturno.
  8. Lua em conjunção com Júpiter.
Mas o que é que tudo isto significa do ponto de vista da Astronomia?!

Os signos do Zodíaco

O movimento de translação da Terra em torno do Sol define um plano ao qual se dá o nome de eclíptica. Com a excepção de Plutão, todos os outros planetas têm o seu movimento de translação praticamente sobre a eclíptica. Visto da Terra, o movimento do Sol, da Lua e dos planetas parece efectuar-se sobre uma estreita faixa do céu. As (outras) estrelas têm a sua posição bem definida no firmamento, e o movimento delas é simultâneo com o movimento de toda a abóbada celeste. Por esta razão, o Sol, a Lua e os planetas eram conhecidos na Antiguidade por "estrelas errantes" ou "estrelas vagabundas". Nesse tempo, era meramente uma questão de criatividade associar heróis da mitologia a constelações formadas pelas estrelas "fixas". As constelações ao longo da faixa onde pareciam mover-se o Sol, a Lua e os planetas receberam uma importância primordial; foram identificadas doze, e mantém ainda o nome que lhes foi dado na Antiguidade, ainda que algumas delas já tenham mudado bastante quer quanto à sua aparência quer quanto à sua posição. São elas as célebres constelações que definem os doze signos do Zodíaco (por curiosidade, refira-se que a palavra Zodíaco deriva da palavra grega zoidiakósque significa tão somente círculo dos animaizinhos). Essas doze constelações, largamente conhecidas, são:
Os doze signos do Zodíaco
^CARNEIRO – equinócio da Primavera
_TOURO
`GÉMEOS
aCARANGUEJO – solstício do Verão
bLEÃO
cVIRGEM
dBALANÇA – equinócio do Outono
eESCORPIÃO
fSAGITÁRIO
gCAPRICÓRNIO – solstício de Inverno
hAQUÁRIO
iPEIXES
Os doze signos do zodíaco servem simplesmente para distribuir entre si os 360graus do círculo do Zodíaco, ficando cada um dos signos responsável por 30 graus deste círculo. A Primavera entra no momento em que o Sol atinge o grau zero da constelação de Carneiro, ou seja, quando o Sol coincide com o ponto vernal; o Verão, quando o Sol atinge o grau zero de Caranguejo; o Outono, quando o Sol entra em Balança e o Inverno começa no momento em que o Sol atinge o grau zero de Capricórnio.
Para a Astronomia moderna, as constelações não são mais do que "regiões do céu" cujo significado se resume à sua utilidade na catalogação dos objectos celestes. Assim a constelação deixa de ser só constituída pelas estrelas que tradicionalmente definiam uma qualquer figura, mas também por todos os outros astros (estrelas, nebulosas, enxames, galáxias, etc.) que estão incluídos na referida região.
Independentemente de tudo isto, é conhecido que as estrelas não estão fixas. Na realidade elas têm um movimento próprio. O Sol, por exemplo, que está situado a 3 ´ 1018 km do centro da Galáxia, executa um movimento de translação em torno deste centro, com um período de 250 milhões de anos. Além disso é bem sabido que as estrelas não se encontram todas à mesma distância da Terra. A combinação destas duas realidades tem como consequência que as estrelas de uma dada constelação mudem as suas posições relativas e portanto a forma da própria constelação, embora estas mutações só possam ser detectáveis com milhares de anos de espaçamento (cf.figura 5).
Figura 5.
A constelação de Ursae Majoris.
Da esquerda para a direita: há 50.000 anos, hoje e daqui a 50.000 anos. Visão esquemática.

Os nodos lunares e os eclipses

O movimento de translação da Lua em torno da Terra efectua-se num plano que faz um ângulo de aproximadamente 5º com o plano da eclíptica. Da intersecção destes dois planos define-se a "linha dos nodos". Assim, os nodos lunares são as intersecções da órbita da Lua com a eclíptica: nodo ascendente (ou nodo Norte) quando a Lua efectua o seu movimento de Sul para Norte da eclíptica e nodo descendente (ou nodo Sul) quando este movimento tem o sentido de Norte para Sul.
Figura 6. Os nodos lunares.A linha a tracejado representa a fracção da órbita da Lua que se encontra abaixo do plano da eclíptica. Se a órbita da Lua estivesse sobre a eclíptica teríamos eclipses do Sol e da Lua todos os meses.
A antiga tradição acreditava que um eclipse era provocado por um dragão que devorava o corpo celeste (Sol ou Lua) e que o vomitava em seguida. A cabeçae a cauda desse dragão são a denominação que então se dava aos nodos lunares: a cauda do dragão seria o nodo Sul e a cabeça do dragão seria o nodo Norte (W ).
De facto, os eclipses estão intimamente ligados a esse dragão imaginário, já que se a Lua Nova ocorre enquanto a Lua se encontra sobre a sua cauda (o nodo Sul), há um eclipse do Sol, enquanto que se a Lua Cheia ocorre enquanto a Lua se encontra sobre a sua cabeça (o nodo Norte), há um eclipse da Lua.
Figura 7.A. Kircher, Ars magna lucis, Amsterdam, 1672.
Tabela de cálculo dos eclipses do Sol e da Lua.

Os astros e seus satélites

Todos os planetas até Saturno eram já conhecidos na Antiguidade. Os seus nomes foram-lhes portanto todos atribuídos nesse tempo. No entanto, nos últimos dois séculos mais três planetas foram descobertos: Urano, Neptuno e Plutão. O significado místico de cada um dos novos planetas ficou associado aos acontecimentos mais importantes para a humanidade, contemporâneos da descoberta do referido planeta.
Significado místico do Sol, da Lua e dos planetas
Sol (ou Hélio)o astro rei, o dia;
Lua (ou Selene)irmã de Hélio, a noite;
Mercúrio (ou Hermes)deus da inteligência,
da comunicação;
Vénus (ou Afrodite)deusa do amor, da beleza;
Marte (ou Ares)deus da guerra, da acção;
Júpiter (ou Zeus)deus dos deuses, o protector,
o optimista;
Saturno (ou Cronos)deus supervisor do destino,
o pessimista;
Urano (o Céu)o libertador, o revolucionário;
Neptuno (ou Posidon)deus dos mares, o sonhador;
Plutão (ou Hades)deus do sub-mundo,
o transformador.
  • Urano, descoberto em 1781, ficou conhecido como o libertador, o revolucionário porque foi contemporâneo da Guerra americana da independência (1781), da Revolução francesa (1789), da descoberta da electricidade (1780) e ainda da revolução industrial.
  • Neptuno, descoberto em 1846, ficou conhecido como o sonhador porque a sua descoberta foi contemporânea da teoria da evolução de Darwin (1846), do manifesto comunista (1848), e ainda da descoberta da anestesia e da hipnose.
  • Plutão descoberto em 1930, ficou conhecido como o deus do mundo inferior, já que a sua descoberta foi contemporânea do fascismo, do estalinismo, e do terrorismo internacional.
Existe uma comissão, a nível mundial, encarregada de "baptizar" convenientemente qualquer novo planeta, satélite ou estrela que venha eventualmente a ser descoberto. Por curiosidade, expomos a seguir os vários planetas e respectivos satélites, para que se tenha uma ideia de como tal comissão tem conseguido organizar uma lista de nomes consistentes com a mitologia de cada um dos planetas.
Os planetas do sistema solar e seus satélites
Mercúrio0 
Vénus0 
Terra1Lua
Marte2Deimos, Fobos
Júpiter17Io, Europa, Ganimedes, Calisto, Amaltea, Himalia, Elara, Pasifae, Sinope, Lisitea, Carme, Ananke, Leda, Tebe, Adrastea, Metis, e um ainda sem nome
Saturno22Mimas, Enceladus, Tetis, Dione, Rhea, Titan, Hyperion, Iapetus, Phoebe, Janus, Epimeteus, Helena, Telesto, Calipso, Atlas, Prometeu, Pandora, Pan, e quatro ainda sem nome
Urano21Ariel, Umbriel, Titania, Oberon, Miranda, Cordélia, Ofélia, Bianca, Cressida, Desdémona, Julieta, Portia, Rosalinda, Belinda, Puck, Caliban, Stephano, Sycorax, Próspero, Setebos, e um ainda sem nome
Neptuno8Tritão, Nereida, Naiad, Talassa, Despina, Galatea, Larissa, Proteus
Plutão1Caronte
Todos os satélites têm nomes inspirados nas mitologias grega e romana, com a excepção de Urano, cujas luas são personagens de obras de Shakespeare. Os satélites de Marte são os cavaleiros de Ares (o nome grego para Marte); os satélites de Neptuno são criaturas do mar; a única lua de Plutão, o rei dos infernos, é Caronte, o barqueiro dos infernos; quanto às luas de Saturno, estas são em grande parte irmãos e irmãs de Cronos (o nome grego para a divindade romana Saturno), enquanto Júpiter está rodeado de suas (e seus) amantes.

Planetas retrógrados

Para um observador na Terra, tanto o Sol como a Lua percorrem a sua trajectória no mesmo sentido (o sentido directo). No entanto, qualquer dos planetas tem momentos em que se movimenta no sentido oposto a este (o sentido retrógrado). O movimento retrógrado de um planeta pode durar tanto umas horas como alguns anos (no caso dos planetas mais longínquos, que são substancialmente mais lentos), até regressar ao movimento directo. Este era um assunto que intrigava os astrólogos, já que os movimentos retrógrados tinham sempre um significado nefasto na interpretação de um horóscopo. A questão dos planetas retrógrados foi levantada pelos adeptos do modelo geocêntrico. Colocando a Terra imóvel no centro do Sistema Solar, um planeta superior (planetas exteriores à órbita da Terra, isto é, de Marte até Plutão), devido ao facto de ter uma velocidade na sua órbita inferior à velocidade da Terra, poderá sugerir a um observador terrestre que se move no sentido retrógrado. Ou ainda, se a Terra e o planeta se encontrarem em posições diametralmente opostas em relação ao Sol, também neste caso o planeta, visto da Terra, parece mover-se em sentido retrógrado (cf. Figura 8b). No modelo geocêntrico, e com o objectivo de resolver este problema, o movimento dos planetas é apresentado como a composição de dois movimentos: no primeiro, o planeta tem um movimento de translação em torno de um ponto fixo, sendo a linha descrita por este movimento chamada epiciclo; no segundo, o epiciclo executa o movimento de translação em torno do Sol (cf. figura 8a). Com a aceitação do modelo heliocêntrico associado às leis de Kepler, o conceito de planeta retrógrado deixa de fazer sentido e a utilização de epiciclos deixa de ser necessária, uma vez que o referido modelo explica por si os movimentos planetários.
Figura 8.O movimento retrógrado dos planetas.
(a) Para o sistema geocêntrico o movimento dos planetas superiores era explicado com o auxílio dos epiciclos;(b) no sistema heliocêntrico, o movimento retrógrado fica perfeitamente claro: para um observador na Terra, o Planeta move-se em sentido contrário (as setas representam o sentido do movimento dos planetas).

O Sistema Solar à luz dos conhecimentos actuais

O Sistema Solar constitui um dos temas em Astronomia e Astrofísica que, nos últimos anos, teve um enorme desenvolvimento. Além das concepções teóricas que naturalmente evoluíram, há a considerar principalmente os resultados provenientes das várias missões espaciais, lançadas para o espaço desde o início dos anos 60.
Actualmente os componentes do Sistema Solar podem ser divididos em quatro grandes grupos: Sol, planetas terrestres e satélites naturais, planetas gasosos ou gigantes e pequenos corpos (asteróides e cometas). Seguidamente apresentamos um resumo das características principais destes quatro grupos.
Sol. O Sol é a única estrela do Sistema Solar. Trata-se de um corpo gasoso e aproximadamente esférico, com 1378 milhões de quilómetros (100 vezes superior ao diâmetro da Terra). O Sol concentra mais de 99.8% da massa de todo o Sistema Solar. Tal como o faz (ou fez) uma qualquer estrela, o Sol transforma no seu núcleo hidrogénio em hélio produzindo assim energia. A teoria indica que a formação do Sol é quase simultânea com a dos planetas e a análise química dos meteoritos que caíram na Terra indica que esta formação teria ocorrido há 4750 milhões de anos. A sonda SoHO, lançada em 1996 e actualmente no espaço, tem como objectivo único a observação do Sol, em particular o estudo dos fenómenos que se passam à sua "superfície", como são exemplo as protuberâncias, as erupções e as manchas.
Planetas terrestres e satélites naturais. Os planetas terrestres, ou seja Mercúrio, Vénus, Terra e Marte, encontram-se na zona mais interior do sistema e têm dimensões muito semelhantes, sendo a Terra o planeta maior deste grupo (diâmetro = 12756 quilómetros). Uma outra característica é a de apresentarem uma atmosfera muito pequena ou quase inexistente como no caso de Mercúrio, devido ao forte vento solar que se teria feito sentir na altura da formação do Sistema Solar. A sua constituição é maioritariamente rocha e silicatos.
Com a excepção da Terra, naturalmente, Marte tem sido o planeta deste grupo que mais interesse tem despertado no Homem. A possibilidade de existência de vida (mesmo que na sua forma mais elementar) tem alimentado as expectativas e a imaginação de cientistas e do público em geral. Para este facto muito contribuíram algumas das descobertas feitas ao longo da nossa história recente, e que "aproximam" Marte do nosso planeta. São disso exemplo a existência de vulcanismo e de canais, estes só explicados pela existência de líquido (água?) na superfície. Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. Pelo facto da atmosfera ser praticamente inexistente, a temperatura à superfície varia entre 452 ºC de dia e –183 ºC de noite. No entanto, este não é o planeta onde a temperatura atinge os valores mais altos: Vénus, graças à sua atmosfera muito densa e consequentemente a uma forte efeito de estufa, tem uma temperatura à superfície aproximadamente constante e igual a 457 ºC.
Quanto à morfologia e à composição química, os satélites naturais dos planetas do Sistema Solar são muito semelhantes aos planetas terrestres. Entre os mais de 60 satélites naturais, e para além da Lua, os satélites de Júpiter têm sido alvo, nos últimos anos, de interesse crescente. Em particular as "luas" Io e Europa: a primeira pela actividade vulcânica, observada recentemente pela sonda Galileo, e a segunda pela possível presença de água por debaixo de uma fina superfície gelada.
Planetas gasosos ou gigantes. Os planetas gasosos, a saber Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno, situam-se no Sistema Solar entre os planetas interiores e Plutão. Estes corpos, de enormes dimensões, são constituídos fundamentalmente por hidrogénio e hélio, na sua forma atómica, algo já desaparecido dos planetas terrestres. O maior dos planetas deste grupo, Júpiter, tem uma massa quase 320 vezes maior que a massa da Terra. A teoria indica que estes planetas não serão totalmente constituídos por gás; o núcleo, com uma extensão de 10% do diâmetro, deverá ser sólido e constituído por Ferro e Silício.
Uma importante característica comum aos planetas gasosos é a sua elevada rotação: Júpiter, por exemplo, dá uma volta sobre si próprio em menos de 10 horas. A existência de anéis é ainda uma particularidade comum aos quatro planetas. Apesar dos anéis de Saturno serem os mais evidentes e historicamente mais famosos (descobertos por Galileu Galilei em 1610), também Júpiter, Urano e Neptuno têm na sua órbita milhões de partículas, cujas dimensões podem variar entre a fracção do milímetro e poucos quilómetros, e que formam a estrutura anelar.
Pequenos corpos. Pertencem ainda ao Sistema Solar milhares de outros pequenos corpos dos quais podemos destacar os seguintes.
Asteróides. Corpos sólidos, não necessariamente esféricos, com órbitas muito excêntricas em torno do Sol, ocupando preferencialmente uma posição algures entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Este corpos têm dimensões inferiores às dos planetas. O maior dos asteróides, Ceres, descoberto em 1801, tem um diâmetro de 940 km.
Objectos trans-neptunianos. Corpos sólidos e rochosos, cobertos de uma fina camada de gelo, com dimensões que podem variar entre as dezenas e algumas centenas de quilómetros. Estes objectos encontram-se depois de Neptuno definindo a "cintura de Kuiper" em honra a um dos seus descobridores, o astrónomo Gerard Kuiper. Há quem defenda que esta cintura não é mais do que um reservatório de cometas de curto período. Uma das mais recentes discussões entre os especialistas em planetologia, envolve justamente estes objectos e Plutão: alguns planetólogos consideram que Plutão não poderá ser considerado um planeta principal (a par dos outros oito), uma vez que Plutão se tratará de um objecto trans-neptuniano igual a tantos outros que aí existirão.
Cometas. corpos em tudo semelhantes aos objectos trans-neptunianos, mas cuja origem é a "cintura de Oort" a 1500 mil milhões de quilómetros do Sol. Em contraste com os objectos da "cintura de Kuiper", estes são conhecidos por "cometas de longo período".

Conclusão

Voltemos à carta astrológica de Júlio Verne (cf. figura 4) para agora a traduzirmos em função de tudo o que foi apresentado até aqui, sem tentar de modo algum fazer qualquer interpretação da carta para além da que a Astronomia nos pode dar.
Signo solar Aquário: no momento do nascimento, o Sol, visto da Terra, encontrava-se sobre o grau 19 de Aquário (h). Durante cada ano, o Sol visita todos os doze signos do Zodíaco, permanecendo em cada um deles durante cerca de um mês.
Signo lunar Escorpião: no momento do nascimento, a Lua, vista da Terra, encontrava-se sobre o grau 14 de Escorpião (e). Como a Lua tem um período de aproximadamente 29 dias e meio, leva precisamente este tempo a percorrer todo o círculo do Zodíaco, o que quer dizer que durante todos os meses a Lua visita todos os 12 signos do Zodíaco, permanecendo em cada um deles cerca de dois dias e meio.
Signo ascendente Gémeos: a linha horizontal na carta astrológica representa o horizonte do lugar, no momento representado. Na hora do nascimento, Gémeos (` ) era a constelação que se encontrava na posição nascente ou ascendente (AC). Obviamente, alguém que nasça ao nascer do Sol, tem como ascendente o seu signo solar. Na posição diametralmente oposta encontra-se o signo descendente (DC), ou seja, o que está a descer no horizonte, a poente.
Meio do Céu em Aquário: Meio do Céu (MC - Medium Coeli) é o ponto do círculo do Zodíaco intersectado no referido momento pelo meridiano do lugar. No caso em questão, esse ponto é o grau 16 de Aquário (h). Na posição diametralmente oposta encontra-se o ponto denominado Fundo do Céu (IC – Imum Coeli).
Cabeça do dragão em Balança: no momento do nascimento, o nodo Norte (W ), visto da Terra, encontrava-se no grau 29 de Balança (d ).
Saturno retrógrado em Caranguejo: naquele dia, visto da Terra, Saturno encontrava-se sobre o grau 14 de Caranguejo (a ). Como o período de Saturno é de pouco menos que 30 anos, este planeta permanece em cada signo do Zodíaco durante quase dois anos e meio. Além disto, Saturno, visto da Terra no dia em questão, movia-se no sentido retrógrado.
Plutão em Carneiro: naquele dia, visto da Terra, Plutão (P) encontrava-se sobre o grau 5 de Carneiro (^ ). Como o período de Plutão é de 248 anos, este planeta pode permanecer num signo do Zodíaco durante mais de 20 anos.
Neptuno em oposição a Saturno ou Lua em conjunção com Júpiter: depois de identificadas as posições do Sol, da Lua, dos planetas e dos nodos na carta astrológica, pode fazer-se um pequeno exercício de trigonometria e identificar os planetas que se encontram em posições "interessantes". Diz-se, por exemplo, que dois ou mais planetas estão em conjunção se o ângulo entre as suas posições for aproximadamente de 0º e estão em oposição se o ângulo for de 180º. Outras posições que constam de uma carta astrológica são ângulos de 90º, 60º, 120º, etc. No caso de Júlio Verne, é fácil identificar na carta tanto a conjunção entre Júpiter (4) e Lua, que aparecem claramente sobrepostos, como a oposição entre Neptuno (y ) e Saturno, cujas posições são diametralmente opostas.

Referências

Natália Bebiano ¾ Revista Millenium, Instituto Politécnico de Viseu, 2000.
R. Green
 ¾ Spherical Astronomy, Ed. Cambridge University, 1987.
W. Kaufman III & R. Freefman
 ¾ Universe, 5ª edição, Ed. Freeman, 1999.
Alexander Roob
 ¾ Alquimia e Misticismo, Taschen, Colónia, 1997.
Carlota Simões e João Fernandes 
¾ Astrologia e Astronomia: uma conversa entre as duas, Revista Millenium, Instituto Politécnico de Viseu, 2000.
Weissman, McFadden, Johnson
 ¾ Encyclopedia of the Solar System. Ed. Academic Press, 1999.
*
Tabela comparativa dos planetas do sistema solar
PlanetaDiâmetro equatorial(km)Massa (g)Período de rotação
Período de translação(anos)
Distância ao Sol (106 km)
Mercúrio
4879
3.3´ 1026
58.65 dias
0.24
58
Vénus
12104
4.9´ 1027
243 dias
0.62
108
Terra
12756
6.0´ 1027
23.9 horas
1
150
Marte
6794
6.4´ 1026
24.6 horas
1.88
228
Júpiter
142984
1.9´ 1030
9.8 horas
11.86
778
Saturno
120536
5.7´ 1029
10.2 horas
29.42
1429
Urano
51118
8.7´ 1028
17.2 horas
83.75
2875
Neptuno
48528
1.0´ 1029
16.1 horas
163.73
4504
Plutão
2300
1.3´ 1025
6.4 dias
248
5916

INGLÊS ! VERB TO BE (SER OU ESTA)


HISTORIA PRÉ HISTORIA !!

 

Pré-História


As pinturas rupestre são fonte de informação sobre este período.
As pinturas rupestre são fonte de informação sobre este período.
Ao contrário do significado da expressão que nomeia o período inicial da história humana, a Pré-História não se trata de um período anterior à História. Este termo foi cunhado por historiadores do século XIX, que acreditavam ser impossível julgar o passado por documentos que não fossem escritos. No entanto, o período pré-histórico, conta com um riquíssimo aparato documental que relata as descobertas e costumes do homem. Além disso, nos traz à tona uma série de questões de interesse atual, como a que se refere à relação do homem com a natureza.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
Artigos de "Pré-História"

português LIVRO AUTO DA BARCA DO INFERNO !!!



AUTO DA BARCA DO INFERNO
Gil Vicente
Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.
Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
À barca, à barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir!
Oh, que tempo de partir,
louvores a Berzebu!
- Ora, sus! que fazes tu?
Despeja todo esse leito!
COMPANHEIRO Em boa hora! Feito, feito!
DIABO Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta
e alija aquela driça.
COMPANHEIRO Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!
DIABO Oh, que caravela esta!
Põe bandeiras, que é festa.
Verga alta! Âncora a pique!
- Ó poderoso dom Anrique,
cá vindes vós?... Que cousa é esta?...
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO Pera lá vai a senhora?
DIABO Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO Parece-me isso cortiço...
DIABO Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO Porém, a que terra passais?
DIABO Pera o inferno, senhor.
FIDALGO Terra é bem sem-sabor.
DIABO Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO Parece-te a ti assi!...
DIABO Em que esperas ter guarida?
FIDALGO Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
Mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes!
Segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes,
haveis de passar o rio.
FIDALGO Não há aqui outro navio?
DIABO Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me destes logo sinal.
FIDALGO Que sinal foi esse tal?
DIABO Do que vós vos contentastes.
FIDALGO A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!...
(Pardeus, aviado estou!
Cant'a isto é já pior...)
Oue jericocins, salvanor!
Cuidam cá que são eu grou?
ANJO Que quereis?
FIDALGO Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais.
ANJO Esta é; que demandais?
FIDALGO Que me leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
é bem que me recolhais.
ANJO Não se embarca tirania
neste batel divinal.
FIDALGO Não sei porque haveis por mal
que entre a minha senhoria...
ANJO Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
FIDALGO Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!
ANJO Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO À barca, à barca, senhores!
Oh! que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes.
FIDALGO Ao Inferno, todavia!
Inferno há i pera mi?
Oh triste! Enquanto vivi
não cuidei que o i havia:
Tive que era fantesia!
Folgava ser adorado,
confiei em meu estado
e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.
DIABO Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos...
Tomarês um par de remos,
veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais,
todos bem vos serviremos.
FIDALGO Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha dama querida
que se quer matar por mi.
Dia, Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO Isto bem certo o sei eu.
DIABO Ó namorado sandeu,
o maior que nunca vi!...
FIDALGO Como pod'rá isso ser,
que m'escrevia mil dias?
DIABO Quantas mentiras que lias,
e tu... morto de prazer!...
FIDALGO Pera que é escarnecer,
quem nom havia mais no bem?
DIABO Assi vivas tu, amém,
como te tinha querer!
FIDALGO Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO Pois estando tu expirando,
se estava ela requebrando
com outro de menos preço.
FIDALGO Dá-me licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
DIABO E ela, por não te ver,
despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou,
antre seus gritos e gritas,
foi dar graças infinitas
a quem a desassombrou.
FIDALGO Cant'a ela, bem chorou!
DIABO Nom há i choro de alegria?..
FIDALGO E as lástimas que dezia?
DIABO Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai:
Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO Entremos, pois que assi é.
DIABO Ora, senhor, descansai,
passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
FIDALGO Ó barca, como és ardente!
Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO Nom entras cá! Vai-te d'i!
A cadeira é cá sobeja;
cousa que esteve na igreja
nom se há-de embarcar aqui.
Cá lha darão de marfi,
marchetada de dolores,
com tais modos de lavores,
que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente,
que queremos dar à vela!
Chegar ela! Chegar ela!
Muitos e de boamente!
Oh! que barca tão valente!
Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:
ONZENEIRO Pera onde caminhais?
DIABO Oh! que má-hora venhais,
onzeneiro, meu parente!
Como tardastes vós tanto?
ONZENEIRO Mais quisera eu lá tardar...
Na safra do apanhar
me deu Saturno quebranto.
DIABO Ora mui muito m'espanto
nom vos livrar o dinheiro!...
ONZENEIRO Solamente para o barqueiro
nom me leixaram nem tanto...
DIABO Ora entrai, entrai aqui!
ONZENEIRO Não hei eu i d'embarcar!
DIABO Oh! que gentil recear,
e que cousas pera mi!...
ONZENEIRO Ainda agora faleci,
leixa-me buscar batel!
DIABO Pesar de Jam Pimentel!
Porque não irás aqui?...
ONZENEIRO E pera onde é a viagem?
DIABO Pera onde tu hás-de ir.
ONZENEIRO Havemos logo de partir?
DIABO Não cures de mais linguagem.
ONZENEIRO Mas pera onde é a passagem?
DIABO Pera a infernal comarca.
ONZENEIRO Dix! Nom vou eu tal barca.
Estoutra tem avantagem.
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da barca! Houlá! Hou!
Haveis logo de partir?
ANJO E onde queres tu ir?
ONZENEIRO Eu pera o Paraíso vou.
ANJO Pois cant'eu mui fora estou
de te levar para lá.
Essoutra te levará;
vai pera quem te enganou!
ONZENEIRO Porquê?
ANJO Porque esse bolsão
tomará todo o navio.
ONZENEIRO Juro a Deus que vai vazio!
ANJO Não já no teu coração.
ONZENEIRO Lá me fica, de rondão,
minha fazenda e alhea.
ANJO Ó onzena, como és fea
e filha de maldição!
Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:
ONZENEIRO Houlá! Hou! Demo barqueiro!
Sabês vós no que me fundo?
Quero lá tornar ao mundo
e trazer o meu dinheiro.
que aqueloutro marinheiro,
porque me vê vir sem nada,
dá-me tanta borregada
como arrais lá do Barreiro.
DIABO Entra, entra, e remarás!
Nom percamos mais maré!
ONZENEIRO Todavia...
DIABO Per força é!
Que te pês, cá entrarás!
Irás servir Satanás,
pois que sempre te ajudou.
ONZENEIRO Oh! Triste, quem me cegou?
DIABO Cal'te, que cá chorarás.
Entrando o Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo embarcado, diz tirando o barrete:
ONZENEIRO Santa Joana de Valdês!
Cá é vossa senhoria?
FIDALGO Dá ò demo a cortesia!
DIABO Ouvis? Falai vós cortês!
Vós, fidalgo, cuidareis
que estais na vossa pousada?
Dar-vos-ei tanta pancada
com um remo que renegueis!
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
PARVO Hou daquesta!
DIABO Quem é?
PARVO Eu soo.
É esta a naviarra nossa?
DIABO De quem?
PARVO Dos tolos.
DIABO Vossa.
Entra!
PARVO De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma, vim adoecer
e fui má-hora morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO De que morreste?
PARVO De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO De quê?
PARVO De caga merdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO Entra! Põe aqui o pé!
PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!
DIABO Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO Ao porto de Lucifer.
PARVO Ha-á-a...
DIABO Ó Inferno! Entra cá!
PARVO Ò Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pêro Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardanapo!
Neto de cagarrinhosa!
Furta cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
per'a Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
Chega o Parvo ao batel do Anjo e dlz:
PARVO Hou da barca!
ANJO Que me queres?
PARVO Queres-me passar além?
ANJO Quem és tu?
PARVO Samica alguém.
ANJO Tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres
per malícia nom erraste.
Tua simpreza t'abaste
pera gozar dos prazeres.
Espera entanto per i:
veremos se vem alguém,
merecedor de tal bem,
que deva de entrar aqui.
Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas, e chega ao batel infernal, e diz:
SAPATEIRO Hou da barca!
DIABO Quem vem i?
Santo sapateiro honrado,
como vens tão carregado?...
SAPATEIRO Mandaram-me vir assi...
E pera onde é a viagem?
DIABO Pera o lago dos danados.
SAPATEIRO Os que morrem confessados
onde têm sua passagem?
DIABO Nom cures de mais linguagem!
Esta é a tua barca, esta!
SAPATEIRO Renegaria eu da festa
e da puta da barcagem!
Como poderá isso ser,
confessado e comungado?!...
DIABO Tu morreste excomungado:
Nom o quiseste dizer.
Esperavas de viver,
calaste dous mil enganos...
Tu roubaste bem trint'anos
o povo com teu mester.
Embarca, eramá pera ti,
que há já muito que t'espero!
SAPATEIRO Pois digo-te que nom quero!
DIABO Que te pês, hás-de ir, si, si!
SAPATEIRO Quantas missas eu ouvi,
nom me hão elas de prestar?
DIABO Ouvir missa, então roubar,
é caminho per'aqui.
SAPATEIRO E as ofertas que darão?
E as horas dos finados?
DIABO E os dinheiros mal levados,
que foi da satisfação?
SAPATEIRO Ah! Nom praza ò cordovão,
nem à puta da badana,
se é esta boa traquitana
em que se vê Jan Antão!
Ora juro a Deus que é graça!
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da santa caravela,
poderês levar-me nela?
ANJO A cárrega t'embaraça.
SAPATEIRO Nom há mercê que me Deus faça?
Isto uxiquer irá.
ANJO Essa barca que lá está
Leva quem rouba de praça.
Oh! almas embaraçadas!
SAPATEIRO Ora eu me maravilho
haverdes por grão peguilho
quatro forminhas cagadas
que podem bem ir i chantadas
num cantinho desse leito!
ANJO Se tu viveras dereito,
Elas foram cá escusadas.
SAPATEIRO Assi que determinais
que vá cozer ò Inferno?
ANJO Escrito estás no caderno
das ementas infernais.
Torna-se à barca dos danados, e diz:
SAPATEIRO Hou barqueiros! Que aguardais?
Vamos, venha a prancha logo
e levai-me àquele fogo!
Não nos detenhamos mais!
Vem um Frade com üa Moça pela mão, e um broquel e üa espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã:
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Som cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu,
DIABO Fezestes bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que nom t'entendo!
E este hábito no me val?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Berzebu vos encomendo!
FRADE Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?!...
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assi Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
DIABO Não curês de mais detença.
Embarcai e partiremos:
tomareis um par de ramos.
FRADE Nom ficou isso n'avença.
DIABO Pois dada está já a sentença!
FRADE Pardeus! Essa seria ela!
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença.
Como? Por ser namorado
e folgar com üa mulher
se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!...
DIABO Ora estás bem aviado!
FRADE Mais estás bem corregido!
DIABO Dovoto padre marido,
haveis de ser cá pingado...
Descobriu o Frade a cabeça, tirando o capelo; e apareceu o casco, e diz o Frade:
FRADE Mantenha Deus esta c'oroa!
DIABO ó padre Frei Capacete!
Cuidei que tínheis barrete...
FRADE Sabê que fui da pessoa!
Esta espada é roloa
e este broquel, rolão.
DIABO Dê Vossa Reverença lição
d'esgrima, que é cousa boa!
Começou o frade a dar lição d'esgrima com a espada e broquel, que eram d'esgrimir, e diz desta maneira:
FRADE Deo gratias! Demos caçada!
Pera sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés!
E logo colher os pés,
que todo o al no é nada!
Quando o recolher se tarda
o ferir nom é prudente.
Ora, sus! Mui largamente,
cortai na segunda guarda!
- Guarde-me Deus d'espingarda
mais de homem denodado.
Aqui estou tão bem guardado
como a palhá n'albarda.
Saio com meia espada...
Hou lá! Guardai as queixadas!
DIABO Oh que valentes levadas!
FRADE Ainda isto nom é nada...
Demos outra vez caçada!
Contra sus e um fendente,
e, cortando largamente,
eis aqui sexta feitada.
Daqui saio com üa guia
e um revés da primeira:
esta é a quinta verdadeira.
- Oh! quantos daqui feria!...
Padre que tal aprendia
no Inferno há-de haver pingos?!...
Ah! Nom praza a São Domingos
com tanta descortesia!
Tornou a tomar a Moça pela mão, dizendo:
FRADE Vamos à barca da Glória!
Começou o Frade a fazer o tordião e foram dançando até o batel do Anjo desta maneira:
FRADE Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-rã;
rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã.
Huhá!
Deo gratias! Há lugar cá
pera minha reverença?
E a senhora Florença
polo meu entrará lá!
PARVO Andar, muitieramá!
Furtaste esse trinchão, frade?
FRADE Senhora, dá-me à vontade
que este feito mal está.
Vamos onde havemos d'ir!
Não praza a Deus coa a ribeira!
Eu não vejo aqui maneira
senão, enfim, concrudir.
DIABO Haveis, padre, de viir.
FRADE Agasalhai-me lá Florença,
e compra-se esta sentença:
ordenemos de partir.
Tanto que o Frade foi embarcado, veio üa Alcoviteira, per nome Brízida Vaz, a qual chegando à barca infernal, diz desta maneira:
BRÍZIDA Hou lá da barca, hou lá!
DIABO Quem chama?
BRÍZIDA Brízida Vaz.
DIABO E aguarda-me, rapaz?
Como nom vem ela já?
COMPANHEIRO Diz que nom há-de vir cá
sem Joana de Valdês.
DIABO Entrai vós, e remarês.
BRÍZIDA Nom quero eu entrar lá.
DIABO Que sabroso arrecear!
BRÍZIDA No é essa barca que eu cato.
DIABO E trazês vós muito fato?
BRÍZIDA O que me convém levar.
Día. Que é o que havês d'embarcar?
BRÍZIDA Seiscentos virgos postiços
e três arcas de feitiços
que nom podem mais levar.
Três almários de mentir,
e cinco cofres de enlheos,
e alguns furtos alheos,
assi em jóias de vestir,
guarda-roupa d'encobrir,
enfim - casa movediça;
um estrado de cortiça
com dous coxins d'encobrir.
A mor cárrega que é:
essas moças que vendia.
Daquestra mercadoria
trago eu muita, à bofé!
DIABO Ora ponde aqui o pé...
BRÍZIDA Hui! E eu vou pera o Paraíso!
DIABO E quem te dixe a ti isso?
BRÍZIDA Lá hei-de ir desta maré.
Eu sô üa mártela tal!...
Açoutes tenho levados
e tormentos suportados
que ninguém me foi igual.
Se fosse ò fogo infernal,
lá iria todo o mundo!
A estoutra barca, cá fundo,
me vou, que é mais real.
Chegando à Barca da Glória diz ao Anjo:
Barqueiro mano, meus olhos,
prancha a Brísida Vaz.
ANJO: Eu não sei quem te cá traz...
BRÍZIDA Peço-vo-lo de giolhos!
Cuidais que trago piolhos,
anjo de Deos, minha rosa?
Eu sô aquela preciosa
que dava as moças a molhos,
a que criava as meninas
pera os cónegos da Sé...
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas,
olho de perlinhas finas!
E eu som apostolada,
angelada e martelada,
e fiz cousas mui divinas.
Santa Úrsula nom converteu
tantas cachopas como eu:
todas salvas polo meu
que nenhüa se perdeu.
E prouve Àquele do Céu
que todas acharam dono.
Cuidais que dormia eu sono?
Nem ponto se me perdeu!
ANJO Ora vai lá embarcar,
não estês importunando.
BRÍZIDA Pois estou-vos eu contando
o porque me haveis de levar.
ANJO Não cures de importunar,
que não podes vir aqui.
BRÍZIDA E que má-hora eu servi,
pois não me há-de aproveitar!...
Torna-se Brízida Vaz à Barca do Inferno, dizendo:
BRÍZIDA Hou barqueiros da má-hora,
que é da prancha, que eis me vou?
E já há muito que aqui estou,
e pareço mal cá de fora.
DIABO Ora entrai, minha senhora,
e sereis bem recebida;
se vivestes santa vida,
vós o sentirês agora...
Tanto que Brízida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro!
DIABO Oh! que má-hora vieste!...
JUDEU Cuj'é esta barca que preste?
DIABO Esta barca é do barqueiro.
JUDEU. Passai-me por meu dinheiro.
DIABO E o bode há cá de vir?
JUDEU Pois também o bode há-de vir.
DIABO Que escusado passageiro!
JUDEU Sem bode, como irei lá?
DIABO Nem eu nom passo cabrões.
JUDEU Eis aqui quatro tostões
e mais se vos pagará.
Por vida do Semifará
que me passeis o cabrão!
Querês mais outro tostão?
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá.
JUDEU Porque nom irá o judeu
onde vai Brísida Vaz?
Ao senhor meirinho apraz?
Senhor meirinho, irei eu?
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu...
JUDEU O mando, dizês, do batel?
Corregedor, coronel,
castigai este sandeu!
Azará, pedra miúda,
lodo, chanto, fogo, lenha,
caganeira que te venha!
Má corrença que te acuda!
Par el Deu, que te sacuda
coa beca nos focinhos!
Fazes burla dos meirinhos?
Dize, filho da cornuda!
PARVO Furtaste a chiba cabrão?
Parecês-me vós a mim
gafanhoto d'Almeirim
chacinado em um seirão.
DIABO Judeu, lá te passarão,
porque vão mais despejados.
PARVO E ele mijou nos finados
n'ergueja de São Gião!
E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor!
E aperta o salvador,
e mija na caravela!
DIABO Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
Vem um Corregedor, carregado de feitos, e, chegando à barca do Inferno, com sua vara na mão, diz:
CORREGEDOR Hou da barca!
DIABO Que quereis?
CORREGEDOR Está aqui o senhor juiz?
DIABO Oh amador de perdiz.
gentil cárrega trazeis!
CORREGEDOR No meu ar conhecereis
que nom é ela do meu jeito.
DIABO Como vai lá o direito?
CORREGEDOR Nestes feitos o vereis.
DIABO Ora, pois, entrai. Veremos
que diz i nesse papel...
CORREGEDOR E onde vai o batel?
DIABO No Inferno vos poeremos.
CORREGEDOR Como? À terra dos demos
há-de ir um corregedor?
DIABO Santo descorregedor,
embarcai, e remaremos!
Ora, entrai, pois que viestes!
CORREGEDOR Non est de regulae juris, não!
DIABO Ita, Ita! Dai cá a mão!
Remaremos um remo destes.
Fazei conta que nacestes
pera nosso companheiro.
- Que fazes tu, barzoneiro?
Faze-lhe essa prancha prestes!
CORREGEDOR Oh! Renego da viagem
e de quem me há-de levar!
Há 'qui meirinho do mar?
DIABO Não há tal costumagem.
CORREGEDOR Nom entendo esta barcagem,
nem hoc nom potest esse.
DIABO Se ora vos parecesse
que nom sei mais que linguagem...
Entrai, entrai, corregedor!
CORREGEDOR Hou! Videtis qui petatis -
Super jure magestatis
tem vosso mando vigor?
DIABO Quando éreis ouvidor
nonne accepistis rapina?
Pois ireis pela bolina
onde nossa mercê for...
Oh! que isca esse papel
pera um fogo que eu sei!
CORREGEDOR Domine, memento mei!
DIABO Non es tempus, bacharel!
Imbarquemini in batel
quia Judicastis malitia.
CORREGEDOR Sempre ego justitia
fecit, e bem por nivel.
DIABO E as peitas dos judeus
que a vossa mulher levava?
CORREGEDOR Isso eu não o tomava
eram lá percalços seus.
Nom som pecatus meus,
peccavit uxore mea.
DIABO Et vobis quoque cum ea,
não temuistis Deus.
A largo modo adquiristis
sanguinis laboratorum
ignorantis peccatorum.
Ut quid eos non audistis?
CORREGEDOR Vós, arrais, nonne legistis
que o dar quebra os pinedos?
Os direitos estão quedos,
sed aliquid tradidistis...
DIABO Ora entrai, nos negros fados!
Ireis ao lago dos cães
e vereis os escrivães
como estão tão prosperados.
CORREGEDOR E na terra dos danados
estão os Evangelistas?
DIABO Os mestres das burlas vistas
lá estão bem fraguados.
Estando o Corregedor nesta prática com o Arrais infernal chegou um Procurador, carregado de livros, e diz o Corregedor ao Procurador:
CORREGEDOR Ó senhor Procurador!
PROCURADOR Bejo-vo-las mãos, Juiz!
Que diz esse arrais? Que diz?
DIABO Que serês bom remador.
Entrai, bacharel doutor,
e ireis dando na bomba.
PROCURADOR E este barqueiro zomba...
Jogatais de zombador?
Essa gente que aí está
pera onde a levais?
DIABO Pera as penas infernais.
PROCURADOR Dix! Nom vou eu pera lá!
Outro navio está cá,
muito milhor assombrado.
DIABO Ora estás bem aviado!
Entra, muitieramá!
CORREGEDOR Confessaste-vos, doutor?
PROCURADOR Bacharel som. Dou-me à Demo!
Não cuidei que era extremo,
nem de morte minha dor.
E vós, senhor Corregedor?
CORREGEDOR Eu mui bem me confessei,
mas tudo quanto roubei
encobri ao confessor...
Porque, se o nom tornais,
não vos querem absolver,
e é mui mau de volver
depois que o apanhais.
DIABO Pois porque nom embarcais?
PROCURADOR Quia speramus in Deo.
DIABO Imbarquemini in barco meo...
Pera que esperatis mais?
Vão-se ambos ao batel da Glória, e, chegando, diz o Corregedor ao Anjo:
CORREGEDOR Ó arrais dos gloriosos,
passai-nos neste batel!
ANJO Oh! pragas pera papel,
pera as almas odiosos!
Como vindes preciosos,
sendo filhos da ciência!
CORREGEDOR Oh! habeatis clemência
e passai-nos como vossos!
PARVO Hou, homens dos breviairos,
rapinastis coelhorum
et pernis perdigotorum
e mijais nos campanairos!
CORREGEDOR Oh! não nos sejais contrairos,
pois nom temos outra ponte!
PARVO Belequinis ubi sunt?
Ego latinus macairos.
ANJO A justiça divinal
vos manda vir carregados
porque vades embarcados
nesse batel infernal.
CORREGEDOR Oh! nom praza a São Marçal!
coa ribeira, nem co rio!
Cuidam lá que é desvario
haver cá tamanho mal!
PROCURADOR Que ribeira é esta tal!
PARVO Parecês-me vós a mi
como cagado nebri,
mandado no Sardoal.
Embarquetis in zambuquis!
CORREGEDOR Venha a negra prancha cá!
Vamos ver este segredo.
PROCURADOR Diz um texto do Degredo...
DIABO Entrai, que cá se dirá!
E Tanto que foram dentro no batel dos condenados, disse o Corregedor a Brízida Vaz, porque a conhecia:
CORREGEDOR Oh! esteis muitieramá,
senhora Brízida Vaz!
BRÍZIDA Já siquer estou em paz,
que não me leixáveis lá.
Cada hora sentenciada:
«Justiça que manda fazer....»
CORREGEDOR E vós... tornar a tecer
e urdir outra meada.
BRÍZIDA Dizede, juiz d'alçada:
vem lá Pêro de Lixboa?
Levá-lo-emos à toa
e irá nesta barcada.
Vem um homem que morreu Enforcado, e, chegando ao batel dos mal-aventurados, disse o Arrais, tanto que chegou:
DIABO Venhais embora, enforcado!
Que diz lá Garcia Moniz?
ENFORCADO Eu te direi que ele diz:
que fui bem-aventurado
em morrer dependurado
como o tordo na buiz,
e diz que os feitos que eu fiz
me fazem canonizado.
DIABO Entra cá, governarás
atá as portas do Inferno.
ENFORCADO Nom é essa a nau que eu governo.
DIABO Mando-te eu que aqui irás.
ENFORCADO Oh! nom praza a Barrabás!
Se Garcia Moniz diz
que os que morrem como eu fiz
são livres de Satanás...
E disse que a Deus prouvera
que fora ele o enforcado;
e que fosse Deus louvado
que em bo'hora eu cá nacera;
e que o Senhor m'escolhera;
e por bem vi beleguins.
E com isto mil latins,
mui lindos, feitos de cera.
E, no passo derradeiro,
me disse nos meus ouvidos
que o lugar dos escolhidos
era a forca e o Limoeiro;
nem guardião do moesteiro
nom tinha tão santa gente
como Afonso Valente
que é agora carcereiro.
DIABO Dava-te consolação
isso, ou algum esforço?
ENFORCADO Com o baraço no pescoço,
mui mal presta a pregação...
E ele leva a devação
que há-de tornar a jentar...
Mas quem há-de estar no ar
avorrece-lhe o sermão.
DIABO Entra, entra no batel,
que ao Inferno hás-de ir!
ENFORCADO O Moniz há-de mentir?
Disse-me que com São Miguel
jentaria pão e mel
tanto que fosse enforcado.
Ora, já passei meu fado,
e já feito é o burel.
Agora não sei que é isso:
não me falou em ribeira,
nem barqueiro, nem barqueira,
senão - logo ò Paraíso.
Isto muito em seu siso.
e era santo o meu baraço...
Eu não sei que aqui faço:
que é desta glória emproviso?
DIABO Falou-te no Purgatório?
ENFORCADO Disse que era o Limoeiro,
e ora por ele o salteiro
e o pregão vitatório;
e que era mui notório
que àqueles deciprinados
eram horas dos finados
e missas de São Gregório.
DIABO Quero-te desenganar:
se o que disse tomaras,
certo é que te salvaras.
Não o quiseste tomar...
- Alto! Todos a tirar,
que está em seco o batel!
- Saí vós, Frei Babriel!
Ajudai ali a botar!
Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Senhor e acrecentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d'Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presi- dentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:
CAVALEIROS À barca, à barca segura,
barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Senhores que trabalhais
pola vida transitória,
memória , por Deus, memória
deste temeroso cais!
À barca, à barca, mortais,
Barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Vigiai-vos, pecadores,
que, depois da sepultura,
neste rio está a ventura
de prazeres ou dolores!
À barca, à barca, senhores,
barca mui nobrecida,
à barca, à barca da vida!
E passando per diante da proa do batel dos danados assi cantando, com suas espadas e escudos, disse o Arrais da perdição desta maneira:
DIABO Cavaleiros, vós passais
e nom perguntais onde is?
1º CAVALEIRO Vós, Satanás, presumis?
Atentai com quem falais!
2º CAVALEIRO Vós que nos demandais?
Siquer conhecê-nos bem:
morremos nas Partes d'Além,
e não queirais saber mais.
DIABO Entrai cá! Que cousa é essa?
Eu nom posso entender isto!
CAVALEIROS Quem morre por Jesu Cristo
não vai em tal barca como essa!
Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:
ANJO Ó cavaleiros de Deus,
a vós estou esperando,
que morrestes pelejando
por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo mal,
mártires da Santa Igreja,
que quem morre em tal peleja
merece paz eternal.
E assi embarcam.roveniente de:
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AUTO DA BARCA DO INFERNO
Gil Vicente
Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.
Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
À barca, à barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir!
Oh, que tempo de partir,
louvores a Berzebu!
- Ora, sus! que fazes tu?
Despeja todo esse leito!
COMPANHEIRO Em boa hora! Feito, feito!
DIABO Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta
e alija aquela driça.
COMPANHEIRO Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!
DIABO Oh, que caravela esta!
Põe bandeiras, que é festa.
Verga alta! Âncora a pique!
- Ó poderoso dom Anrique,
cá vindes vós?... Que cousa é esta?...
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO Pera lá vai a senhora?
DIABO Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO Parece-me isso cortiço...
DIABO Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO Porém, a que terra passais?
DIABO Pera o inferno, senhor.
FIDALGO Terra é bem sem-sabor.
DIABO Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO Parece-te a ti assi!...
DIABO Em que esperas ter guarida?
FIDALGO Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
Mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes!
Segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes,
haveis de passar o rio.
FIDALGO Não há aqui outro navio?
DIABO Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me destes logo sinal.
FIDALGO Que sinal foi esse tal?
DIABO Do que vós vos contentastes.
FIDALGO A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!...
(Pardeus, aviado estou!
Cant'a isto é já pior...)
Oue jericocins, salvanor!
Cuidam cá que são eu grou?
ANJO Que quereis?
FIDALGO Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais.
ANJO Esta é; que demandais?
FIDALGO Que me leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
é bem que me recolhais.
ANJO Não se embarca tirania
neste batel divinal.
FIDALGO Não sei porque haveis por mal
que entre a minha senhoria...
ANJO Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
FIDALGO Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!
ANJO Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO À barca, à barca, senhores!
Oh! que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes.
FIDALGO Ao Inferno, todavia!
Inferno há i pera mi?
Oh triste! Enquanto vivi
não cuidei que o i havia:
Tive que era fantesia!
Folgava ser adorado,
confiei em meu estado
e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.
DIABO Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos...
Tomarês um par de remos,
veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais,
todos bem vos serviremos.
FIDALGO Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha dama querida
que se quer matar por mi.
Dia, Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO Isto bem certo o sei eu.
DIABO Ó namorado sandeu,
o maior que nunca vi!...
FIDALGO Como pod'rá isso ser,
que m'escrevia mil dias?
DIABO Quantas mentiras que lias,
e tu... morto de prazer!...
FIDALGO Pera que é escarnecer,
quem nom havia mais no bem?
DIABO Assi vivas tu, amém,
como te tinha querer!
FIDALGO Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO Pois estando tu expirando,
se estava ela requebrando
com outro de menos preço.
FIDALGO Dá-me licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
DIABO E ela, por não te ver,
despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou,
antre seus gritos e gritas,
foi dar graças infinitas
a quem a desassombrou.
FIDALGO Cant'a ela, bem chorou!
DIABO Nom há i choro de alegria?..
FIDALGO E as lástimas que dezia?
DIABO Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai:
Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO Entremos, pois que assi é.
DIABO Ora, senhor, descansai,
passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
FIDALGO Ó barca, como és ardente!
Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO Nom entras cá! Vai-te d'i!
A cadeira é cá sobeja;
cousa que esteve na igreja
nom se há-de embarcar aqui.
Cá lha darão de marfi,
marchetada de dolores,
com tais modos de lavores,
que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente,
que queremos dar à vela!
Chegar ela! Chegar ela!
Muitos e de boamente!
Oh! que barca tão valente!
Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:
ONZENEIRO Pera onde caminhais?
DIABO Oh! que má-hora venhais,
onzeneiro, meu parente!
Como tardastes vós tanto?
ONZENEIRO Mais quisera eu lá tardar...
Na safra do apanhar
me deu Saturno quebranto.
DIABO Ora mui muito m'espanto
nom vos livrar o dinheiro!...
ONZENEIRO Solamente para o barqueiro
nom me leixaram nem tanto...
DIABO Ora entrai, entrai aqui!
ONZENEIRO Não hei eu i d'embarcar!
DIABO Oh! que gentil recear,
e que cousas pera mi!...
ONZENEIRO Ainda agora faleci,
leixa-me buscar batel!
DIABO Pesar de Jam Pimentel!
Porque não irás aqui?...
ONZENEIRO E pera onde é a viagem?
DIABO Pera onde tu hás-de ir.
ONZENEIRO Havemos logo de partir?
DIABO Não cures de mais linguagem.
ONZENEIRO Mas pera onde é a passagem?
DIABO Pera a infernal comarca.
ONZENEIRO Dix! Nom vou eu tal barca.
Estoutra tem avantagem.
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da barca! Houlá! Hou!
Haveis logo de partir?
ANJO E onde queres tu ir?
ONZENEIRO Eu pera o Paraíso vou.
ANJO Pois cant'eu mui fora estou
de te levar para lá.
Essoutra te levará;
vai pera quem te enganou!
ONZENEIRO Porquê?
ANJO Porque esse bolsão
tomará todo o navio.
ONZENEIRO Juro a Deus que vai vazio!
ANJO Não já no teu coração.
ONZENEIRO Lá me fica, de rondão,
minha fazenda e alhea.
ANJO Ó onzena, como és fea
e filha de maldição!
Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:
ONZENEIRO Houlá! Hou! Demo barqueiro!
Sabês vós no que me fundo?
Quero lá tornar ao mundo
e trazer o meu dinheiro.
que aqueloutro marinheiro,
porque me vê vir sem nada,
dá-me tanta borregada
como arrais lá do Barreiro.
DIABO Entra, entra, e remarás!
Nom percamos mais maré!
ONZENEIRO Todavia...
DIABO Per força é!
Que te pês, cá entrarás!
Irás servir Satanás,
pois que sempre te ajudou.
ONZENEIRO Oh! Triste, quem me cegou?
DIABO Cal'te, que cá chorarás.
Entrando o Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo embarcado, diz tirando o barrete:
ONZENEIRO Santa Joana de Valdês!
Cá é vossa senhoria?
FIDALGO Dá ò demo a cortesia!
DIABO Ouvis? Falai vós cortês!
Vós, fidalgo, cuidareis
que estais na vossa pousada?
Dar-vos-ei tanta pancada
com um remo que renegueis!
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
PARVO Hou daquesta!
DIABO Quem é?
PARVO Eu soo.
É esta a naviarra nossa?
DIABO De quem?
PARVO Dos tolos.
DIABO Vossa.
Entra!
PARVO De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma, vim adoecer
e fui má-hora morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO De que morreste?
PARVO De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO De quê?
PARVO De caga merdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO Entra! Põe aqui o pé!
PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!
DIABO Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO Ao porto de Lucifer.
PARVO Ha-á-a...
DIABO Ó Inferno! Entra cá!
PARVO Ò Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pêro Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardanapo!
Neto de cagarrinhosa!
Furta cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
per'a Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
Chega o Parvo ao batel do Anjo e dlz:
PARVO Hou da barca!
ANJO Que me queres?
PARVO Queres-me passar além?
ANJO Quem és tu?
PARVO Samica alguém.
ANJO Tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres
per malícia nom erraste.
Tua simpreza t'abaste
pera gozar dos prazeres.
Espera entanto per i:
veremos se vem alguém,
merecedor de tal bem,
que deva de entrar aqui.
Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas, e chega ao batel infernal, e diz:
SAPATEIRO Hou da barca!
DIABO Quem vem i?
Santo sapateiro honrado,
como vens tão carregado?...
SAPATEIRO Mandaram-me vir assi...
E pera onde é a viagem?
DIABO Pera o lago dos danados.
SAPATEIRO Os que morrem confessados
onde têm sua passagem?
DIABO Nom cures de mais linguagem!
Esta é a tua barca, esta!
SAPATEIRO Renegaria eu da festa
e da puta da barcagem!
Como poderá isso ser,
confessado e comungado?!...
DIABO Tu morreste excomungado:
Nom o quiseste dizer.
Esperavas de viver,
calaste dous mil enganos...
Tu roubaste bem trint'anos
o povo com teu mester.
Embarca, eramá pera ti,
que há já muito que t'espero!
SAPATEIRO Pois digo-te que nom quero!
DIABO Que te pês, hás-de ir, si, si!
SAPATEIRO Quantas missas eu ouvi,
nom me hão elas de prestar?
DIABO Ouvir missa, então roubar,
é caminho per'aqui.
SAPATEIRO E as ofertas que darão?
E as horas dos finados?
DIABO E os dinheiros mal levados,
que foi da satisfação?
SAPATEIRO Ah! Nom praza ò cordovão,
nem à puta da badana,
se é esta boa traquitana
em que se vê Jan Antão!
Ora juro a Deus que é graça!
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da santa caravela,
poderês levar-me nela?
ANJO A cárrega t'embaraça.
SAPATEIRO Nom há mercê que me Deus faça?
Isto uxiquer irá.
ANJO Essa barca que lá está
Leva quem rouba de praça.
Oh! almas embaraçadas!
SAPATEIRO Ora eu me maravilho
haverdes por grão peguilho
quatro forminhas cagadas
que podem bem ir i chantadas
num cantinho desse leito!
ANJO Se tu viveras dereito,
Elas foram cá escusadas.
SAPATEIRO Assi que determinais
que vá cozer ò Inferno?
ANJO Escrito estás no caderno
das ementas infernais.
Torna-se à barca dos danados, e diz:
SAPATEIRO Hou barqueiros! Que aguardais?
Vamos, venha a prancha logo
e levai-me àquele fogo!
Não nos detenhamos mais!
Vem um Frade com üa Moça pela mão, e um broquel e üa espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã:
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Som cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu,
DIABO Fezestes bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que nom t'entendo!
E este hábito no me val?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Berzebu vos encomendo!
FRADE Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?!...
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assi Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
DIABO Não curês de mais detença.
Embarcai e partiremos:
tomareis um par de ramos.
FRADE Nom ficou isso n'avença.
DIABO Pois dada está já a sentença!
FRADE Pardeus! Essa seria ela!
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença.
Como? Por ser namorado
e folgar com üa mulher
se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!...
DIABO Ora estás bem aviado!
FRADE Mais estás bem corregido!
DIABO Dovoto padre marido,
haveis de ser cá pingado...
Descobriu o Frade a cabeça, tirando o capelo; e apareceu o casco, e diz o Frade:
FRADE Mantenha Deus esta c'oroa!
DIABO ó padre Frei Capacete!
Cuidei que tínheis barrete...
FRADE Sabê que fui da pessoa!
Esta espada é roloa
e este broquel, rolão.
DIABO Dê Vossa Reverença lição
d'esgrima, que é cousa boa!
Começou o frade a dar lição d'esgrima com a espada e broquel, que eram d'esgrimir, e diz desta maneira:
FRADE Deo gratias! Demos caçada!
Pera sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés!
E logo colher os pés,
que todo o al no é nada!
Quando o recolher se tarda
o ferir nom é prudente.
Ora, sus! Mui largamente,
cortai na segunda guarda!
- Guarde-me Deus d'espingarda
mais de homem denodado.
Aqui estou tão bem guardado
como a palhá n'albarda.
Saio com meia espada...
Hou lá! Guardai as queixadas!
DIABO Oh que valentes levadas!
FRADE Ainda isto nom é nada...
Demos outra vez caçada!
Contra sus e um fendente,
e, cortando largamente,
eis aqui sexta feitada.
Daqui saio com üa guia
e um revés da primeira:
esta é a quinta verdadeira.
- Oh! quantos daqui feria!...
Padre que tal aprendia
no Inferno há-de haver pingos?!...
Ah! Nom praza a São Domingos
com tanta descortesia!
Tornou a tomar a Moça pela mão, dizendo:
FRADE Vamos à barca da Glória!
Começou o Frade a fazer o tordião e foram dançando até o batel do Anjo desta maneira:
FRADE Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-rã;
rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã.
Huhá!
Deo gratias! Há lugar cá
pera minha reverença?
E a senhora Florença
polo meu entrará lá!
PARVO Andar, muitieramá!
Furtaste esse trinchão, frade?
FRADE Senhora, dá-me à vontade
que este feito mal está.
Vamos onde havemos d'ir!
Não praza a Deus coa a ribeira!
Eu não vejo aqui maneira
senão, enfim, concrudir.
DIABO Haveis, padre, de viir.
FRADE Agasalhai-me lá Florença,
e compra-se esta sentença:
ordenemos de partir.
Tanto que o Frade foi embarcado, veio üa Alcoviteira, per nome Brízida Vaz, a qual chegando à barca infernal, diz desta maneira:
BRÍZIDA Hou lá da barca, hou lá!
DIABO Quem chama?
BRÍZIDA Brízida Vaz.
DIABO E aguarda-me, rapaz?
Como nom vem ela já?
COMPANHEIRO Diz que nom há-de vir cá
sem Joana de Valdês.
DIABO Entrai vós, e remarês.
BRÍZIDA Nom quero eu entrar lá.
DIABO Que sabroso arrecear!
BRÍZIDA No é essa barca que eu cato.
DIABO E trazês vós muito fato?
BRÍZIDA O que me convém levar.
Día. Que é o que havês d'embarcar?
BRÍZIDA Seiscentos virgos postiços
e três arcas de feitiços
que nom podem mais levar.
Três almários de mentir,
e cinco cofres de enlheos,
e alguns furtos alheos,
assi em jóias de vestir,
guarda-roupa d'encobrir,
enfim - casa movediça;
um estrado de cortiça
com dous coxins d'encobrir.
A mor cárrega que é:
essas moças que vendia.
Daquestra mercadoria
trago eu muita, à bofé!
DIABO Ora ponde aqui o pé...
BRÍZIDA Hui! E eu vou pera o Paraíso!
DIABO E quem te dixe a ti isso?
BRÍZIDA Lá hei-de ir desta maré.
Eu sô üa mártela tal!...
Açoutes tenho levados
e tormentos suportados
que ninguém me foi igual.
Se fosse ò fogo infernal,
lá iria todo o mundo!
A estoutra barca, cá fundo,
me vou, que é mais real.
Chegando à Barca da Glória diz ao Anjo:
Barqueiro mano, meus olhos,
prancha a Brísida Vaz.
ANJO: Eu não sei quem te cá traz...
BRÍZIDA Peço-vo-lo de giolhos!
Cuidais que trago piolhos,
anjo de Deos, minha rosa?
Eu sô aquela preciosa
que dava as moças a molhos,
a que criava as meninas
pera os cónegos da Sé...
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas,
olho de perlinhas finas!
E eu som apostolada,
angelada e martelada,
e fiz cousas mui divinas.
Santa Úrsula nom converteu
tantas cachopas como eu:
todas salvas polo meu
que nenhüa se perdeu.
E prouve Àquele do Céu
que todas acharam dono.
Cuidais que dormia eu sono?
Nem ponto se me perdeu!
ANJO Ora vai lá embarcar,
não estês importunando.
BRÍZIDA Pois estou-vos eu contando
o porque me haveis de levar.
ANJO Não cures de importunar,
que não podes vir aqui.
BRÍZIDA E que má-hora eu servi,
pois não me há-de aproveitar!...
Torna-se Brízida Vaz à Barca do Inferno, dizendo:
BRÍZIDA Hou barqueiros da má-hora,
que é da prancha, que eis me vou?
E já há muito que aqui estou,
e pareço mal cá de fora.
DIABO Ora entrai, minha senhora,
e sereis bem recebida;
se vivestes santa vida,
vós o sentirês agora...
Tanto que Brízida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro!
DIABO Oh! que má-hora vieste!...
JUDEU Cuj'é esta barca que preste?
DIABO Esta barca é do barqueiro.
JUDEU. Passai-me por meu dinheiro.
DIABO E o bode há cá de vir?
JUDEU Pois também o bode há-de vir.
DIABO Que escusado passageiro!
JUDEU Sem bode, como irei lá?
DIABO Nem eu nom passo cabrões.
JUDEU Eis aqui quatro tostões
e mais se vos pagará.
Por vida do Semifará
que me passeis o cabrão!
Querês mais outro tostão?
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá.
JUDEU Porque nom irá o judeu
onde vai Brísida Vaz?
Ao senhor meirinho apraz?
Senhor meirinho, irei eu?
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu...
JUDEU O mando, dizês, do batel?
Corregedor, coronel,
castigai este sandeu!
Azará, pedra miúda,
lodo, chanto, fogo, lenha,
caganeira que te venha!
Má corrença que te acuda!
Par el Deu, que te sacuda
coa beca nos focinhos!
Fazes burla dos meirinhos?
Dize, filho da cornuda!
PARVO Furtaste a chiba cabrão?
Parecês-me vós a mim
gafanhoto d'Almeirim
chacinado em um seirão.
DIABO Judeu, lá te passarão,
porque vão mais despejados.
PARVO E ele mijou nos finados
n'ergueja de São Gião!
E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor!
E aperta o salvador,
e mija na caravela!
DIABO Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
Vem um Corregedor, carregado de feitos, e, chegando à barca do Inferno, com sua vara na mão, diz:
CORREGEDOR Hou da barca!
DIABO Que quereis?
CORREGEDOR Está aqui o senhor juiz?
DIABO Oh amador de perdiz.
gentil cárrega trazeis!
CORREGEDOR No meu ar conhecereis
que nom é ela do meu jeito.
DIABO Como vai lá o direito?
CORREGEDOR Nestes feitos o vereis.
DIABO Ora, pois, entrai. Veremos
que diz i nesse papel...
CORREGEDOR E onde vai o batel?
DIABO No Inferno vos poeremos.
CORREGEDOR Como? À terra dos demos
há-de ir um corregedor?
DIABO Santo descorregedor,
embarcai, e remaremos!
Ora, entrai, pois que viestes!
CORREGEDOR Non est de regulae juris, não!
DIABO Ita, Ita! Dai cá a mão!
Remaremos um remo destes.
Fazei conta que nacestes
pera nosso companheiro.
- Que fazes tu, barzoneiro?
Faze-lhe essa prancha prestes!
CORREGEDOR Oh! Renego da viagem
e de quem me há-de levar!
Há 'qui meirinho do mar?
DIABO Não há tal costumagem.
CORREGEDOR Nom entendo esta barcagem,
nem hoc nom potest esse.
DIABO Se ora vos parecesse
que nom sei mais que linguagem...
Entrai, entrai, corregedor!
CORREGEDOR Hou! Videtis qui petatis -
Super jure magestatis
tem vosso mando vigor?
DIABO Quando éreis ouvidor
nonne accepistis rapina?
Pois ireis pela bolina
onde nossa mercê for...
Oh! que isca esse papel
pera um fogo que eu sei!
CORREGEDOR Domine, memento mei!
DIABO Non es tempus, bacharel!
Imbarquemini in batel
quia Judicastis malitia.
CORREGEDOR Sempre ego justitia
fecit, e bem por nivel.
DIABO E as peitas dos judeus
que a vossa mulher levava?
CORREGEDOR Isso eu não o tomava
eram lá percalços seus.
Nom som pecatus meus,
peccavit uxore mea.
DIABO Et vobis quoque cum ea,
não temuistis Deus.
A largo modo adquiristis
sanguinis laboratorum
ignorantis peccatorum.
Ut quid eos non audistis?
CORREGEDOR Vós, arrais, nonne legistis
que o dar quebra os pinedos?
Os direitos estão quedos,
sed aliquid tradidistis...
DIABO Ora entrai, nos negros fados!
Ireis ao lago dos cães
e vereis os escrivães
como estão tão prosperados.
CORREGEDOR E na terra dos danados
estão os Evangelistas?
DIABO Os mestres das burlas vistas
lá estão bem fraguados.
Estando o Corregedor nesta prática com o Arrais infernal chegou um Procurador, carregado de livros, e diz o Corregedor ao Procurador:
CORREGEDOR Ó senhor Procurador!
PROCURADOR Bejo-vo-las mãos, Juiz!
Que diz esse arrais? Que diz?
DIABO Que serês bom remador.
Entrai, bacharel doutor,
e ireis dando na bomba.
PROCURADOR E este barqueiro zomba...
Jogatais de zombador?
Essa gente que aí está
pera onde a levais?
DIABO Pera as penas infernais.
PROCURADOR Dix! Nom vou eu pera lá!
Outro navio está cá,
muito milhor assombrado.
DIABO Ora estás bem aviado!
Entra, muitieramá!
CORREGEDOR Confessaste-vos, doutor?
PROCURADOR Bacharel som. Dou-me à Demo!
Não cuidei que era extremo,
nem de morte minha dor.
E vós, senhor Corregedor?
CORREGEDOR Eu mui bem me confessei,
mas tudo quanto roubei
encobri ao confessor...
Porque, se o nom tornais,
não vos querem absolver,
e é mui mau de volver
depois que o apanhais.
DIABO Pois porque nom embarcais?
PROCURADOR Quia speramus in Deo.
DIABO Imbarquemini in barco meo...
Pera que esperatis mais?
Vão-se ambos ao batel da Glória, e, chegando, diz o Corregedor ao Anjo:
CORREGEDOR Ó arrais dos gloriosos,
passai-nos neste batel!
ANJO Oh! pragas pera papel,
pera as almas odiosos!
Como vindes preciosos,
sendo filhos da ciência!
CORREGEDOR Oh! habeatis clemência
e passai-nos como vossos!
PARVO Hou, homens dos breviairos,
rapinastis coelhorum
et pernis perdigotorum
e mijais nos campanairos!
CORREGEDOR Oh! não nos sejais contrairos,
pois nom temos outra ponte!
PARVO Belequinis ubi sunt?
Ego latinus macairos.
ANJO A justiça divinal
vos manda vir carregados
porque vades embarcados
nesse batel infernal.
CORREGEDOR Oh! nom praza a São Marçal!
coa ribeira, nem co rio!
Cuidam lá que é desvario
haver cá tamanho mal!
PROCURADOR Que ribeira é esta tal!
PARVO Parecês-me vós a mi
como cagado nebri,
mandado no Sardoal.
Embarquetis in zambuquis!
CORREGEDOR Venha a negra prancha cá!
Vamos ver este segredo.
PROCURADOR Diz um texto do Degredo...
DIABO Entrai, que cá se dirá!
E Tanto que foram dentro no batel dos condenados, disse o Corregedor a Brízida Vaz, porque a conhecia:
CORREGEDOR Oh! esteis muitieramá,
senhora Brízida Vaz!
BRÍZIDA Já siquer estou em paz,
que não me leixáveis lá.
Cada hora sentenciada:
«Justiça que manda fazer....»
CORREGEDOR E vós... tornar a tecer
e urdir outra meada.
BRÍZIDA Dizede, juiz d'alçada:
vem lá Pêro de Lixboa?
Levá-lo-emos à toa
e irá nesta barcada.
Vem um homem que morreu Enforcado, e, chegando ao batel dos mal-aventurados, disse o Arrais, tanto que chegou:
DIABO Venhais embora, enforcado!
Que diz lá Garcia Moniz?
ENFORCADO Eu te direi que ele diz:
que fui bem-aventurado
em morrer dependurado
como o tordo na buiz,
e diz que os feitos que eu fiz
me fazem canonizado.
DIABO Entra cá, governarás
atá as portas do Inferno.
ENFORCADO Nom é essa a nau que eu governo.
DIABO Mando-te eu que aqui irás.
ENFORCADO Oh! nom praza a Barrabás!
Se Garcia Moniz diz
que os que morrem como eu fiz
são livres de Satanás...
E disse que a Deus prouvera
que fora ele o enforcado;
e que fosse Deus louvado
que em bo'hora eu cá nacera;
e que o Senhor m'escolhera;
e por bem vi beleguins.
E com isto mil latins,
mui lindos, feitos de cera.
E, no passo derradeiro,
me disse nos meus ouvidos
que o lugar dos escolhidos
era a forca e o Limoeiro;
nem guardião do moesteiro
nom tinha tão santa gente
como Afonso Valente
que é agora carcereiro.
DIABO Dava-te consolação
isso, ou algum esforço?
ENFORCADO Com o baraço no pescoço,
mui mal presta a pregação...
E ele leva a devação
que há-de tornar a jentar...
Mas quem há-de estar no ar
avorrece-lhe o sermão.
DIABO Entra, entra no batel,
que ao Inferno hás-de ir!
ENFORCADO O Moniz há-de mentir?
Disse-me que com São Miguel
jentaria pão e mel
tanto que fosse enforcado.
Ora, já passei meu fado,
e já feito é o burel.
Agora não sei que é isso:
não me falou em ribeira,
nem barqueiro, nem barqueira,
senão - logo ò Paraíso.
Isto muito em seu siso.
e era santo o meu baraço...
Eu não sei que aqui faço:
que é desta glória emproviso?
DIABO Falou-te no Purgatório?
ENFORCADO Disse que era o Limoeiro,
e ora por ele o salteiro
e o pregão vitatório;
e que era mui notório
que àqueles deciprinados
eram horas dos finados
e missas de São Gregório.
DIABO Quero-te desenganar:
se o que disse tomaras,
certo é que te salvaras.
Não o quiseste tomar...
- Alto! Todos a tirar,
que está em seco o batel!
- Saí vós, Frei Babriel!
Ajudai ali a botar!
Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Senhor e acrecentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d'Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presi- dentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:
CAVALEIROS À barca, à barca segura,
barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Senhores que trabalhais
pola vida transitória,
memória , por Deus, memória
deste temeroso cais!
À barca, à barca, mortais,
Barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Vigiai-vos, pecadores,
que, depois da sepultura,
neste rio está a ventura
de prazeres ou dolores!
À barca, à barca, senhores,
barca mui nobrecida,
à barca, à barca da vida!
E passando per diante da proa do batel dos danados assi cantando, com suas espadas e escudos, disse o Arrais da perdição desta maneira:
DIABO Cavaleiros, vós passais
e nom perguntais onde is?
1º CAVALEIRO Vós, Satanás, presumis?
Atentai com quem falais!
2º CAVALEIRO Vós que nos demandais?
Siquer conhecê-nos bem:
morremos nas Partes d'Além,
e não queirais saber mais.
DIABO Entrai cá! Que cousa é essa?
Eu nom posso entender isto!
CAVALEIROS Quem morre por Jesu Cristo
não vai em tal barca como essa!
Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:
ANJO Ó cavaleiros de Deus,
a vós estou esperando,
que morrestes pelejando
por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo mal,
mártires da Santa Igreja,
que quem morre em tal peleja
merece paz eternal.
E assi embarcam.